Por Luciano Mendes de Faria Filho.
Esse
é um país muito louco mesmo! Em qual outro lugar do mundo haveria um
investimento tão pesado dos poderes públicos para acabar com uma universidade
de qualidade como está ocorrendo, no Rio de Janeiro, com a UERJ? E pior,
ainda, com a complacência da mídia e de boa parte da população? Sei não, acho
que em nenhum outro!
O problema é
muito mais sério do que o sucateamento e a desestruturação de uma das melhores
universidades do país. Trata-se de uma verdadeira lógica de ataque às
instituições públicas, pelo próprio poder público que deveria zelar pelo seu
funcionamento. Mas não apenas. Hoje (20/07), fui procurado por uma
jornalista d’O Globo, que me fez a seguinte indagação: “Uma pesquisa demonstrou
que 50% dos jovens brasileiros querem fazer o ensino superior, mas não têm
dinheiro para pagar. O governo cortou parte do financiamento que poderia ajudá-los.
O que fazer?”.
Não bastasse
o Brasil ter um dos piores índices do mundo na oferta de vagas no ensino
superior – apenas 24% das vagas são públicas -, a ideia posta é de que a saída
seria mais financiamento público para a iniciativa privada no ensino superior.
E, me parece, é essa lógica que funciona no caso da UERJ: para que manter
uma universidade pública de qualidade funcionando se fortalecer a iniciativa
privada é muito mais fácil? O problema é que essa facilidade tem um alto custo
para a sociedade brasileira e me faz lembrar o “pato da FIESP”: quem paga o
pato dessa facilidade é, justamente, a população mais pobre!
Minha
relação com a UERJ vem desde há muitos anos quando passei a frequentar as
Reuniões Anuais da ANPED e lá me encontrar com muitos
de seus alunos e professores. É de lá um dos mais importantes grupos de
história da educação do país, área em que atuo e na qual mantenho parcerias com
os grupos da UERJ desde o final dos anos de 1990. Lá já dei aulas, participei
de seminários e publicações conjuntas e compartilhei vários projetos nacionais
e internacionais.
Não é por
acaso, também, que na UERJ se encontra um dos três Programas de Pós-Graduação
com Nota 7 – a máxima! – na Área de Educação. Mas não é apenas
isso: a UERJ teve, e tem, um papel fundamental e pioneiro na implantação de
políticas de cotas no Brasil e, do mesmo modo, na intensificação e qualificação
da relação brasileira com as ciências humanas e sociais latino-americanas.
Ambas as iniciativas são, hoje, reconhecidas como exitosas pela
comunidade acadêmica nacional e internacional.
Por isso
tudo, ao impedir o pleno funcionamento da UERJ, o governo do Rio de Janeiro não
está apenas investindo contra uma universidade pública de qualidade, o que por
si só já um crime de enorme grandeza: está também, de fato, impossibilitando a
realização de projetos reconhecidos e ampliados por todo o Brasil.
Não nos esqueçamos, a sorte da UERJ é a nossa sorte! A luta
daqueles e daquelas que lutam pela continuidade da UERJ como uma universidade
pública e de qualidade é de todos nós! Por isso, #somosuerj!
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